sexta-feira, 30 de março de 2012

Um dia especial

Hoje eu amanheci com aquele peso no peito, que só um imenso vazio pode deixar. Me senti um lixo, incapaz de cuidar de mim mesmo. Por lembrar de uma série de depoimentos escutados no dia anterior, sobre como outros rapazes trocam de namorada como quem troca de roupa, usando até mais de uma ao mesmo tempo, fazendo isso parecer algo tão natural quanto respirar. Em quanto que eu, sempre estive aqui, implorando a Deus por uma chance de amar e ser amado.

Essa angustia durou o dia inteiro, e por não poder mais aguentar ficar no meu quarto, sendo encarado pelas paredes e pelo teto, resolvi ir para a aula. Péssima ideia.

Me senti como um intruso, talvez sensação igual sentiria um palhaço ao se tocar que entrou, equivocadamente, em um velório. Nenhuma cara conhecida, todos bem mais novos, ainda com toda a inconfundível empolgação de início de curso, que eu também experimentei ao entrar na faculdade. E agora em meio a toda aquela eu foria, a minha angustia de ser infeliz no amor, se somou ao deplorável remorso de ser um fracassado também nos estudos. Todas aquelas faces estranhas, me fizeram sentir, no ponto mais profundo da minha alma, o quanto eu estava atrasado, e agora só. Antes, com o apoio dos amigos remanescentes, ainda era possível levar o curso com alguma auto estima, mas agora, um dia depois da solenidade de formatura de quase todos os poucos amigos que restaram, me senti até um pouco amedrontado. Pois, será difícil encarar a solidão, que antes me assombrava apenas no meu quarto, e que agora estará marcando presença cerrada em mais um lugar. Será que esse é o meu destino? Ver a solidão se apossar cada vez mais de mais espaços da minha vida?

Depois de encontrar alguns recém conhecidos, com quem pude finalmente trocar algumas palavras, consegui terminar de assistir as aulas, um pouco mais aliviado. E então voltei pra casa. Local onde, embora triste, posso me sentir um pouco mais seguro, pois achava que aqui nenhuma decepção poderia me pegar de surpresa. Pífia ideia. Ao entrar na internet, que é praticamente meu único passa-tempo, onde consigo perder horas, vendo coisas engraçadas ou curiosas que, por breves momentos me fazem esquecer de mim, eis que sou surpreendido pelas fotos que comprovam meu fracasso. Meus, agora, ex-amigos de estudo, exibindo entre abraços, poses e sorrisos, as fotos que ressaltam seus diplomas de engenheiros. E a única coisa que se passa na minha cabeça é: como será minha formatura em meados de julho? Rodeado de um pequeníssimo grupo de estranhos, que também recebem seus diplomas tardiamente, em um clima totalmente deplorável, onde serei abrigado a registrar em fotos, um grande momento de fracasso pessoal.

Nem se quer fui convidado por nenhum dos "amigos" formandos para ir ao evento...

Percebo agora o quanto meu mundo é pequeno, e encolheu ainda mais. Meu mundo acaba no ponto mais longe que minha vista alça, ou seja, as arvores na minha janela. Não há ninguém em outro lugar, qualquer que seja, de quem eu possa lembrar ou se lembrar de mim, seja para o bem ou para o mal. Ninguém que, em um momento de alegria ou tristeza, possa pensar em mim como companhia para diversão ou para afogar as mágoas. Eu geralmente sou ignorado por todos.

Bom...

Para finalizar, irei desligar meu computador, deitar e chorar até que o sono, aliado ao cansaço, vença a dor que me machuca e insiste em aflorar, desde que acordei.

Meu dia foi especialmente péssimo.

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